
Números compilados na tese do pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Daniel Cerqueira revelam que das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, oito tiveram aumento nas suas taxas de homicídios entre 2001 e 2009. A preocupação com os índices de criminalidade alarmantes fez com que, na última quarta-feira (20), o ministro dos Esportes, Orlando Silva, priorizasse a questão da segurança durante o campeonato.
De acordo com o estudo, o maior crescimento da violência se deu em Salvador (BA), onde o número de assassinatos saltou 337,9% em nove anos. Em 2011, houve 18 mortes para cada 100 mil habitantes e, em 2009, o número era de 60,8 homicídios para cada 100 mil habitantes. Segundo o especialista em segurança, Guaracy Minguardi, o caso da capital baiana é problemático porque a cidade recebeu investimentos em segurança, mas não conseguiu controlar seus índices.
- Ninguém sabe por que aumentou tanto os homicídios na cidade. Se você soubesse o motivo, poderia trabalhar nele. No ano que vem, a cidade já tem que mostrar algum trabalho.
O secretário da FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado) para assuntos da Copa na Bahia, Ney Jorge Campello, confirma que a segurança é uma grande preocupação da Secopa (Secretaria Extraordinária para Assuntos da Copa do Mundo) no Estado, mas explica que diversas medidas já foram tomadas no sentido de conter o avanço da criminalidade. Ele cita a criação de bases comunitárias inspiradas nas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Rio de Janeiro como um avanço na área, além da possível criação de uma central de comando da polícia.
- Vamos investir em tecnologia, em um sistema que vai integrar o monitoramento das manchas de crimes em Salvador através de aparelhos de vídeo e áudio. Poderemos identificar onde os disparos das armas de fogo foram feitos para chegar mais rápido com as viaturas.
Um estudo divulgado este mês pelo governo da Bahia apontou uma redução de 16% no número de homicídios no primeiro semestre deste ano comparado ao mesmo período de 2010.
Outras cidades-sede da Copa onde os índices de assassinatos aumentaram significativamente foram Natal (RN), com 156,3%, e Curitiba (PR), com 108,4%. Já São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Cuiabá apresentaram melhoras importantes. A capital paulista, por exemplo, reduziu em 69,6% sua taxa de homicídio de 2001 para 2009.
O autor do estudo, Daniel Cerqueira, explica os números relacionando-os a fatores gerais que aconteceram no Brasil nas últimas décadas. Segundo ele, os índices de criminalidade no país, que vinham crescendo nos anos 80 e 90, começaram a cair a partir de 2001. Essa reversão se deu devido a melhoras nos índices sociais e ao controle de armas entre a população. No entanto, ele pontua que o único elemento que destoou desta melhora foi a “epidemia das drogas”.
- A queda dos homicídios no Brasil não se deu de forma homogênea. Até a década de 90, as drogas eram mais comuns nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, regiões onde a criminalidade já era alta. A partir de 2001, começa a haver expansão do mercado de drogas em outros Estados, como na Bahia, o que levou a um aumento da violência nesses lugares.
Campello defende que as drogas estão extremamente relacionadas aos crimes, mas ressalta que a violência decorre muito mais do tráfico – com a disputa de espaço por gangues rivais - do que do uso dos entorpecentes pela população.
Os índices são muito reveladores e mostram o enorme caminho que o país ainda tem a percorrer para receber corretamente as milhares de pessoas que desembarcarão aqui em 2014, mas Guaracy Minguardi diz que é preciso ponderar o tempo que ainda resta até o evento.
- A gente precisa ver o que vai acontecer quando começar a entrar dinheiro da Copa. É preciso fazer um levantamento, melhorar o que está acontecendo e chegar no ano que vem com novas políticas.
